O Bônus dos Professores de São Paulo já está no e-folha.
quinta-feira, 5 de outubro de 2023
sexta-feira, 29 de setembro de 2023
terça-feira, 26 de setembro de 2023
O “Defunto” que levantou do Caixão
O “Defunto” que levantou do Caixão
Quando
falei do Hélio Batata me lembrei do Israel, Era o único cara que tinha a
coragem de confrontar o Batata, brigavam todos os dias na saída do José de
Castro, apanhava todos os dias. Só levou vantagem uma vez quando mordeu a
orelha do Batata arrancando um pequeno pedaço. O Israel era figura bem
conhecida, cresceu com meus irmãos na Igreja Batista. Era filho do “Seo” Jorge,
um senhorzinho simpático que morou muito tempo no sítio do Mario Chiche, perto
da propriedade do Luiz Salesse. Depois de ter morado longo tempo em Paulínia
ele terminou seus dias na casa ao lado da Alcazen, próximo a Penitenciária.
Lembrar dessa figura me fez lembrar de uma história interessante. Eu era bem
criança, íamos religiosamente a Igreja Batista Betel, ali na Rua Almirante
Barroso, local hoje pertence ao Kbeça da Bateria. Era um culto de sábado,
Israel já residia em Paulínia, estava em Valparaíso visitando os pais, todo
trabalhado no linho perolizado, sapato bico fino e uma blusa de couro das boas,
foi ao culto acompanhado da mãe a Dona “Fia” e da irmã Lurdes(que foi
cozinheira da Santa Casa). Justamente naquele dia estava no comando da
celebração o Pastor Reinaldo da cidade de Andradina, era muito sábio mas não
gostava de conversa paralela durante os cultos, levantar-se para ir ao banheiro
merecia um olhar de reprovação imediato. Ocorreu que o Israel deu um passamento
na barriga, para ir ao banheiro teria que atravessar a Igreja toda, pois os
sanitários ficavam nos fundos. Diante do aperto, resolveu então recorrer ao
estreito corredor que existia ao lado, margeando com um terreno com uma casa de
madeira aos fundos. Estávamos na frente da Igreja para não atrapalhar a
celebração com nossas brincadeiras de crianças, Israel então nos solicitou que
ficássemos de guarda no corredor olhando para avisar se aparecesse alguém. De
posse de algumas folhas de mamona foi então para o fundo do corredor. Bem ao
lado do corredor havia uma casa de madeira, Israel no desespero do ato não
notara que as portas laterais da casa estavam abertas. Estava tão preocupado em
aliviar-se e ao mesmo tempo acompanhar as palavras do Pregador que nem se
preocupou em olhar para os lados. O Pastor falava da ressurreição de Lazaro,
quando com veemência falou:” levante-se e ande”, eis que da casa surge um homem
todo de branco, com algodão nas orelhas e um caixão nas costas. Aquilo foi uma
correria só, desesperados demos no pé para fora e o Israel não sabia se
levantava as calças ou acabava o “serviço”, foi uma borração total. Chegando na
rua estava a veraneio da funerária, a casa de madeira era na realidade uma
fábrica de urnas funerárias, o senhorzinho, acho que era parente da Dona
Lourdes, fabricava os caixões, como tinha dores de ouvido fazia uma proteção
com algodão. Havia falecido uma pessoa obesa e necessitava de uma urna
especial, por isso estavam retirando naquele momento. Mas e o Israel, ninguém
encontrava o homem? Apareceu logo em seguida na esquina do André Golia, havia
pulado as cercas e saído pela Rua XV de Novembro, muito assustado falou que um
defunto tinha levantado do caixão, pior que não acreditava na nossa versão que
o local seria uma fábrica. Anos depois conversei com Israel que ainda tinha
dúvidas se o cara tinha ressuscitado ou não. São histórias de Valparaíso que
não estão registradas.
quinta-feira, 21 de setembro de 2023
Os Rádios do Mané
O rádio foi durante muito tempo o
grande veículo de comunicação do Brasil. Desde jornais até novelas, o rádio era
o luxo da população, famílias inteiras se reuniam ao pé do aparelho com o
intuito de ficar informadas e buscar entretenimento. A Voz do Brasil, pasmen,
era o mais confiável programa jornalístico do país. Nas fazendas de café nem
todos possuíam o precioso equipamento, era comum as comadres se reunirem para
juntos ouvirem as novelas e os compadres para apreciarem as longas falas de
Getúlio Vargas. Televisão nem pensar, somente chegou ao Brasil nos anos 1950,
trazida por Assis Chateaubriand, somente nos anos 1980 chegou à maioria dos
lares. Em Valparaíso não era diferente, um rádio era um equipamento de tanto
valor que era comprado em várias parcelas, quando criança presenciei o Juvenal
rolista intermediar a troca de um terreno por um belo exemplar da Philco.
Lembro a tristeza do meu pai quando naquela crise pós geada levando um rádio
para trocar por alimentos. Televisão era tão raro que o Ayub quando Prefeito
instalou uma na Praça Oscar de Arruda, era grande a quantidade de pessoas que
compareciam para ver o precioso equipamento, as dez da noite em ponto “Seo João
Guarda” desligava a fonte luminosa e a tv. Mas o legal no rádio eram seus
personagens, afinal tínhamos que ouvi-los e imaginar a cena. A nível de Brasil
um que marcou minha infância foi o Zé Bétio. Era um locutor tipo caipira, tinha
um Programa muito cedo, ficou famoso pelas belas músicas do campo e pelos
bordões com os quais se comunicava diretamente com as donas de casa. “Joga água
no marido dona de casa”, repetia sempre. As vezes colocava um jumento para
zurrar antes de falar as horas e imediatamente pedia as mulheres para acordar
os maridos, as crianças e mandar todos para a roça. Impossível não ligar o
rádio as quatro e meia da manhã só para ouvir as trapalhadas do Zé Bétio. Em
Valparaíso as seis da manhã começava o Programa do Tio Belo. Olímpio Lázaro
Ferreira, o Tio Belo, pai do Adão da Prefeitura, era uma espécie de Zé Bétio do
interior. Era muito querido, chamava os ouvintes por nome, caracterizou-se
pelos frangos que pedia para os ouvintes. “O Cumade Maria manda uns frangos aí
pra mim”, e o povo da zona rural levava mesmo. Tinha ouvintes cativos, um deles
era meu vizinho “Mané do Rádio”. Seo Mané era um personagem interessante, fazia
coleção de rádios, as vezes ligava todos ao mesmo tempo, como os rádios eram de
válvula demoravam para aquecer, iam entrando no ar aos poucos. Quatro e meia da
manhã e já se ouvia os rádios do Mané, o problema era o volume, fazia questão
de colocar para a vizinhança toda ouvir. Como era um bom vizinho, nossas casas
mal tinham cercas para separar os quintais, nunca nos importamos com a
barulheira, achávamos até engraçado. Só teve um período que o Mané do Rádio
passou dos limites, comprou um megafone daqueles de vendedor ambulante, não sei
como ele conseguiu instalar no alto de um imenso pé de manga. Parecia aquelas
cidades antigas onde o povo se comunicava pelo som do sino da igreja, pois o
Mané conseguiu o feito de ser ouvido pelo quarteirão inteiro. O interessante é
que Mané nunca possuiu um rádio novo, sempre adquiria usados, quanto mais
detonado melhor, tinha prazer em consertar e logo trocar por outro. Quantas
vezes eu o presenciei mexendo por horas num rádio velho, sempre acompanhado por
sua cachorrinha violeta. Quando a TV se popularizou a sua esposa Carmelita logo
o fez adquirir uma, com muita dor no coração, trocou três rádios por uma
televisão. Ele instalou o aparelho e nos chamou para assistir, foi exatamente o
dia em que ocorreu o famoso incêndio do “Edifício Joelma” em São Paulo. O Mané
do Rádio recebia uns 10 “bom dia” do Tio Belo dentro da programação, quando o
Programa acabava pegava sua bicicletinha
e ia na rádio, ali na Borba Gato, dar bom dia pessoalmente para o Tio Belo. São
personagens de uma história de Valparaíso que ainda não havia sido registrada.
Coisa
boa era viajar no trem de passageiros. Só de pensar que alguém poderia sair da
capital de São Paulo e seguir até a Bolívia, já parece estimulante. Mas
imaginem então, quem viveu essa viagem. Tinha vagões de segunda, onde os bancos
eram de madeira. Nos vagões de primeira os bancos eram estofados e
reclináveis. Nas viagens mais curtas era
comum viajar de segunda, mas correr para a primeira logo no arranque do trem.
Outra esperteza certeira era esconder no banheiro, quando passava o cobrador.
Para quem tinha uma graninha, ofereciam uma espécie de "apartamentos”,
vagões com cama, onde se poderia dormir apesar dos sacolejos. Nos vagões era
interessante, que logo no primeiro sono, passava o cara do
restaurante:"chafé , chafé". Era um Garçom que usava um grande pano
na barriga. Vendia de tudo, bolachas, refrigerantes, cerveja, café, balas e
biscoitos. Além disso tinha o restaurante onde se podia almoçar e jantar. Tinha
banheiros, masculino e feminino em todos os vagões. Nas paradas era uma festa,
em todas as estações, parecia um Shopping Center, gente de todos os tipos, as garotas
se arrumavam para ver o trem passar. Eram paqueras mútuas, que pena naquela
época, não se tinha Watsapp, imaginem falar o endereço pela janela do trem, o
interessante que as cartinhas chegavam. Muitos namoros começaram assim. Dentro
do trem tinha a liberdade de andar para lá e para cá, isso era uma
diversão. Dependendo da viagem, eram
mais de 30 horas, tempo suficiente para conversar, paquerar e até iniciar um
romance. Muitas vezes viajei nesse trem, ia até Campo Grande e fazia a
baldeação, destino Itamaraty, onde morava meu irmão Oded. Que saudade daquele
trem, belas paisagens, desde serras, cerrado, pantanal. O chamado " trem
da morte". Na verdade, levava para a vida, a bela vida presente, no
pantanal mato-grossense.
Quero ser águas serenas
Te transmitir a paz
que tanto te ajuda a ser feliz
Mas não vou sentar-me e esperar
E deixar o mundo passar
Vou correr e fazer acontecer
Os sonhos que sonhamos juntos
Por que te quero sempre aqui pertinho desta minha calmaria
para transferir um pouco de você em meu jeito de ser
E dar-te um pouco de mim
mas não vou fazer isso me acomodando
pois temos um mundo a conquistar uma vida para viver
E tudo o que eu puder fazer
Para este meu e o seu coração
Manterem-se felizes
Mesmo que venham águas turbulentas
Passaremos juntos sempre
Pois uma certeza fica
Somos e seremos muito mais felizes
Na maior parte do nosso tempo
Sem saber por que
Ou por que nosso motivo foi o que nos uniu
E o que nos uniu é maior que o mundo
O que nos uniu criou o amor
Por isso transcende o próprio amor
Envolve carinho, compreensão, empatia
Quero ser águas serenas
Que permite navegar da melhor maneira
E chegar sempre em local seguro
Os melhores dias, o melhor lugar
O melhor amor
Paulinho Araújo