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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Deu na imprensa

Matéria publicada no jornal Estado de Minas, 13/02/2012 - Belo Horizonte - MG.

Quadro preocupante da educação
Luciano Mendes de Faria Filho Professor da UFMG e coordenador do projeto Pensar a educação, pensar o Brasil
Notícias publicadas quarta-feira (Gerais, 8/2/2012) no Estado de Minas sobre a educação no Brasil são desconcertantes e preocupantes para todos nós que militamos por uma educação pública de qualidade no Brasil. Por um lado, informam que há um contingente expressivo de crianças e adolescentes fora da escola, e isso justamente quando os governos da União, estados e municípios teimam em afirmar o contrário e informar continuamente que “já há escola para todos”. De outra parte, em outro caderno, o jornal traz, também, matéria muito interessante sobre os gastos das famílias com educação nos dois últimos anos. Eles reafirmam o que outras pesquisam já demonstraram: nossas camadas trabalhadoras e médias gastam muito com educação, além, é claro, do que já pagam por meio de impostos pelos serviços públicos, entre eles a educação.
Os dados colididos por pesquisadores do insuspeito Movimento Todos pela Educação demonstram que há, sim, que continuar fazendo um esforço para colocar todas as nossas crianças e adolescentes na escola. A publicação desses dados é importante para tornar patente uma realidade que é vivida no cotidiano por muitas famílias: a falta de vagas nas escolas públicas. Isso é importante, inclusive, para analisarmos os passos muitas vezes dados em falso pelos governos da federação e de muitos entes federados, que insistem em investir em factoides. Alguém aí sabe qual é a proposta pedagógica sob o manto do projeto de dar um tablet para cada professor? E quanto a propostas que contrariam os estudiosos da área, como a lei que torna obrigatória a educação a partir dos quatro anos de idade? Não bastasse a falta de escola, as notícias trazidas pelo EM nos mostraram uma outra realidade não menos preocupante: o fato de que as famílias trabalhadoras, tão logo podem, retiram seus filhos da escola pública e os colocam na escola privada. Isso significa que, infelizmente, essas famílias, estão seguindo o caminho trilhado pelas classes médias nas últimas décadas. Ou seja, estão abrindo mão do direito à educação pública, mesmo que isto lhes custe muito dinheiro.
É evidente que, do ponto de vista de cada família isoladamente, nada mais justo e positivo que buscar uma escola melhor para seus filhos. Aliás, esse fato demonstra, contra o que muito se diz, inclusive na mídia, o quanto as famílias se preocupam com a educação de seus filhos. No entanto, do ponto de vista coletivo ou político-cultural de um projeto de nação, o fato de as camadas médias e, agora, as camadas trabalhadoras com maior escolaridade e melhores salários estarem saindo da escola pública é um desastre.
Ao abrir mão do direito à educação pública, ao abandonar a luta por uma escola pública de qualidade, esses grupos não apenas estão gastando recursos financeiros que poderiam suportar o usufruto de outros bens culturais – como livros, teatros, cinemas, viagens etc. –, mas também estão relegando a um segundo plano uma das dimensões fundantes das democracias modernas: o direito de todos os cidadãos a uma mesma educação pública de qualidade. Contra esse fato, de nada valem as pirotecnias oficiais no campo da educação e, muito menos, a passividade do conjunto da sociedade brasileira.

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