O “Defunto” que levantou do Caixão
Quando
falei do Hélio Batata me lembrei do Israel, Era o único cara que tinha a
coragem de confrontar o Batata, brigavam todos os dias na saída do José de
Castro, apanhava todos os dias. Só levou vantagem uma vez quando mordeu a
orelha do Batata arrancando um pequeno pedaço. O Israel era figura bem
conhecida, cresceu com meus irmãos na Igreja Batista. Era filho do “Seo” Jorge,
um senhorzinho simpático que morou muito tempo no sítio do Mario Chiche, perto
da propriedade do Luiz Salesse. Depois de ter morado longo tempo em Paulínia
ele terminou seus dias na casa ao lado da Alcazen, próximo a Penitenciária.
Lembrar dessa figura me fez lembrar de uma história interessante. Eu era bem
criança, íamos religiosamente a Igreja Batista Betel, ali na Rua Almirante
Barroso, local hoje pertence ao Kbeça da Bateria. Era um culto de sábado,
Israel já residia em Paulínia, estava em Valparaíso visitando os pais, todo
trabalhado no linho perolizado, sapato bico fino e uma blusa de couro das boas,
foi ao culto acompanhado da mãe a Dona “Fia” e da irmã Lurdes(que foi
cozinheira da Santa Casa). Justamente naquele dia estava no comando da
celebração o Pastor Reinaldo da cidade de Andradina, era muito sábio mas não
gostava de conversa paralela durante os cultos, levantar-se para ir ao banheiro
merecia um olhar de reprovação imediato. Ocorreu que o Israel deu um passamento
na barriga, para ir ao banheiro teria que atravessar a Igreja toda, pois os
sanitários ficavam nos fundos. Diante do aperto, resolveu então recorrer ao
estreito corredor que existia ao lado, margeando com um terreno com uma casa de
madeira aos fundos. Estávamos na frente da Igreja para não atrapalhar a
celebração com nossas brincadeiras de crianças, Israel então nos solicitou que
ficássemos de guarda no corredor olhando para avisar se aparecesse alguém. De
posse de algumas folhas de mamona foi então para o fundo do corredor. Bem ao
lado do corredor havia uma casa de madeira, Israel no desespero do ato não
notara que as portas laterais da casa estavam abertas. Estava tão preocupado em
aliviar-se e ao mesmo tempo acompanhar as palavras do Pregador que nem se
preocupou em olhar para os lados. O Pastor falava da ressurreição de Lazaro,
quando com veemência falou:” levante-se e ande”, eis que da casa surge um homem
todo de branco, com algodão nas orelhas e um caixão nas costas. Aquilo foi uma
correria só, desesperados demos no pé para fora e o Israel não sabia se
levantava as calças ou acabava o “serviço”, foi uma borração total. Chegando na
rua estava a veraneio da funerária, a casa de madeira era na realidade uma
fábrica de urnas funerárias, o senhorzinho, acho que era parente da Dona
Lourdes, fabricava os caixões, como tinha dores de ouvido fazia uma proteção
com algodão. Havia falecido uma pessoa obesa e necessitava de uma urna
especial, por isso estavam retirando naquele momento. Mas e o Israel, ninguém
encontrava o homem? Apareceu logo em seguida na esquina do André Golia, havia
pulado as cercas e saído pela Rua XV de Novembro, muito assustado falou que um
defunto tinha levantado do caixão, pior que não acreditava na nossa versão que
o local seria uma fábrica. Anos depois conversei com Israel que ainda tinha
dúvidas se o cara tinha ressuscitado ou não. São histórias de Valparaíso que
não estão registradas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário