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segunda-feira, 23 de maio de 2011

Escola Pública na Imprensa

Folha de S. Paulo, 21/05

Rede estadual patina em matemática

Saresp mostra que alunos do 3º ano do ensino médio têm conhecimento na disciplina adequado a criança de 10 anos
7 em cada 10 escolas tiveram desempenho ruim em ciências; já em português, só 3 colégios têm nível adequado

Em mais de 8 de cada 10 escolas estaduais de ensino médio da capital paulista, os alunos do último ano não sabem o conteúdo de matemática esperado para a série.

O desempenho obtido por eles equivale ao que é adequado para estudantes do 5º ano do fundamental -ou seja, alunos com 10 anos.

Os dados são de um ranking das escolas estaduais feito pela reportagem com base no Saresp, exame do governo paulista.

A avaliação mede os conhecimentos dos alunos de 3º, 5º, 7º e 9º anos do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio. Os estudantes fazem provas de português, matemática e ciências.
As notas de cada escola foram divulgadas anteontem.

Apesar de a situação no ensino médio ser mais grave em matemática, ela também não é animadora em ciências da natureza (que engloba física, química e biologia).

Nessa área, em 7 de cada 10 escolas da capital, os estudantes tiraram notas consideradas "insuficientes" em escala feita pelo governo de SP -antes, o conceito "insuficiente" recebia na escala o nome de "abaixo do básico".

Em matemática e ciências, isso significa uma nota abaixo de 275 pontos -a avaliação vai até 500 pontos.

Em português, 22% das escolas também tiveram tiveram nota insuficiente (no caso dessa disciplina, significa menos de 250 pontos).

O conjunto de conceitos tem hoje também as divisões "avançado" e "suficiente" (que engloba os antigos "básico" e "adequado").

Apesar de agora ser considerado "suficiente", o básico significa que os estudantes demonstram "domínio mínimo" dos conteúdos.

Neste último Saresp, no caso das 603 escolas de ensino médio da capital, só 3 três estão no conceito "adequado", e mesmo assim só na disciplina de português. Nas outras matérias, não há nenhuma escola "adequada".

Ficam no "adequado" alunos que demonstram domínio "pleno" do conteúdo desejável para o seu ano.
"Isso indica que a aprendizagem dos alunos está muito baixa. Nenhuma escola deveria estar no "insuficiente". É preciso com urgência um estudo para averiguar as causas disso", diz Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP.

Para ele, as últimas políticas do governo, como a adoção de apostilas, já deveriam estar dando resultado e as notas aumentando.

No entanto, dados gerais do Saresp, divulgados em março, já mostravam que os formandos do ano passado no ensino médio e também no fundamental apresentaram um nível de aprendizagem igual ou até pior que os estudantes que se formaram dois anos atrás.

O único sinal de melhora foi no 5º ano do fundamental. Em matemática, as médias têm crescido desde 2007: de 182,5 para 204,6.

Secretaria diz que rotatividade de professores atrapalha escolas

A Secretaria Estadual de Educação de São Paulo diz que "não há como dissociar a variação negativa desses indicadores da necessidade de mais professores efetivos para a rede estadual de ensino". Em nota, a pasta disse ainda que "a rotatividade de docentes prejudica o aprendizado dos alunos".
"Por essa razão que, pouco depois de nomear cerca de 9.300 professores logo no início desta gestão, o governador Geraldo Alckmin autorizou a contratação de mais 25 mil docentes, que ingressarão na rede em 2012", ressaltou o secretário Herman Voorwald, também na nota.

Vera Cabral, coordenadora da Escola de Formação de Professores do Estado de SP, criada pelo governo estadual em 2009, afirma que os investimentos na formação dos profissionais das escolas irão aumentar neste ano.

Segundo ela, 20 mil professores, diretores, coordenadores de ensino e supervisores passarão por um curso a distância em parceria com USP, Unesp e Unicamp.

Para professores, o curso oferece uma especialização no ensino das disciplinas para diretores, supervisores e coordenadores, de gestão da escola e do currículo.

No ano passado, 10 mil profissionais fizeram o curso.

"Assim conseguimos estar próximos do professor, da escola. Com o ensino a distância, eles não precisam se afastar da escola para fazer o curso. Estão trabalhando dentro da escola", diz Vera. Na rede, há 220 mil professores, entre efetivos e temporários (que não têm vínculo empregatício).
O objetivo da secretaria, segundo ela, é que todos os profissionais da rede passem por cursos de formação continuada nos próximos anos, incluindo os temporários.

"Investir nos profissionais, é uma forma de apoiá-los para melhorar o aprendizado dos alunos de forma contínua", afirma.

Ela acredita ainda que, a partir do ano que vem, o resultado dos alunos já deve melhorar, como reflexo das ações desenvolvidas.


Melhor em português inova conteúdos

Na Escola Estadual Ibrahim Nobre, professores ensinam matéria além da proposta pelo governo de São Paulo

Para a direção da escola, desempenho se deve ao empenho dos docentes e ao comportamento dos estudantes

Professores dedicados, que levam conteúdos novos à sala de aula, muito além daquele proposto pelo governo do Estado, são apontados como os principais responsáveis pelo bom desempenho da Escola Estadual Ibrahim Nobre no Saresp 2010.

O 3º ano do ensino médio da unidade, localizada na região de Campo Grande, na zona sul da capital, registrou a melhor pontuação de língua portuguesa entre as escolas estaduais da cidade no exame aplicado pela Secretaria de Estado da Educação para avaliar estudantes de escolas públicas e privadas.

Com 301,7 pontos, a escola ficou muito acima da média das demais escolas da rede estadual, que tiveram 265,7.

Para os alunos e para a direção da escola, o sucesso se deve ao empenho dos professores e ao comportamento dos estudantes.

"Em outras escolas onde estudei, o professor passava a matéria na lousa e se sentava. Aqui, eles se esforçam para explicar e ainda fazem brincadeiras para tornar a aula mais descontraída", diz Henrique Garcia, 15, do 1º ano do ensino médio.

Outros estudantes concordam. "Aqui quase não tem aula vaga e os professores são exigentes. O reforço também ajuda porque tem um atendimento mais personalizado", diz o estudante Paulo Rogério Barbosa Júnior, 14.

Para a direção da escola, o fato de a maioria dos professores ser de efetivos e morar na região os mantêm na escola por um período maior, incentivando, assim, um trabalho mais aprofundado.
Nos últimos anos, a escola deu um salto. No exame de 2008, a nota de língua portuguesa do ensino médio da unidade estava abaixo da média das escolas da rede em todo o Estado -a escola obteve 263,1, enquanto a média foi de 272,5.

Além do empenho dos docentes, a inexistência de problemas graves relacionados à disciplina e à violência também são apontados como trunfos da escola.

"Frequentemente promovemos palestras sobre temas como drogas e violência. Os alunos também são responsáveis por esse bom resultado. A gente percebe que eles estão aqui para estudar, eles são interessados", afirma uma integrante da direção da escola.

RESSALVAS

Segundo os estudantes, porém, a estrutura da escola não merece os mesmos elogios atribuídos aos professores. Banheiros sujos, carteiras e vidros quebrados e falta de funcionário na biblioteca são os principais problemas citados pelos estudantes.

Pior colégio tem baile funk em aula e rebelião

Na mochila dos alunos do ensino médio da Escola Estadual Madre Paulina, no Itaim Paulista (zona leste de SP), os cadernos e as apostilas dividem espaço com minicaixas de som e pen drives, ao menos uma vez por mês. É o dia do baile funk.

A unidade foi a que obteve a pior pontuação em língua portuguesa entre os alunos do 3º ano do ensino médio no Saresp 2010 (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo).

O ranking foi elaborado pela reportagem a partir dos boletins fornecidos pelo governo estadual. Com 230 pontos, a Madre Paulina está no nível abaixo do básico ou insuficiente.

No colégio, é comum haver música alta dentro das salas, e em período de aula. São os alunos que fazem a seleção e determinam o horário da festa, que pode ocorrer de manhã ou à noite.
Os professores reclamam, mas não conseguem evitar, dizem os estudantes. Policiais que fazem ronda na região confirmam a prática e denunciam outros atos indisciplinares, como consumo de drogas, brigas entre gangues e até rebelião.

"Há poucos dias tivemos de entrar lá para apartar uma guerra de maçãs. Os alunos, que ficam trancados em um corredor durante as aulas, estavam se atacando com as sobras do recreio. Eles gritavam que era rebelião, e parecia mesmo", diz um policial.

A infraestrutura do colégio também não ajuda: placas de aço protegem as janelas de vidro, constantemente quebradas.

A Secretaria de Estado da Educação não autorizou a entrada da reportagem na unidade ontem. Alunos relataram, porém, diversos problemas estruturais, como cadeiras e mesas quebradas, ausência de portas nos banheiros e buracos na quadra de esportes.

O histórico de problemas desanima os próprios jovens. "Até quem tenta estudar não consegue. É um ambiente que não combina com o ensino. Estou lá desde a 5ª série [atual 6º ano do ensino fundamental] e o desânimo é geral. Tem professor bom, mas têm outros que até passam a resposta na lousa para não ter que explicar", diz Talita da Silva Medeiros, 17. A colocação da escola no ranking do Saresp não surpreende as turmas da unidade. "É assim mesmo. Os professores já desistiram da gente", lamentou Uemerson de Bastos, 16.

Fonte: Folha de S PAulo - 21/05

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